Economia da Informação

Escritório digital

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 30 de outubro de 2010

Na economia da informação como trata VARIAN o trabalhador do futuro leva a caixa de ferramentas na mente, no qual a proficiência que antes era baseada em habilidades manuais, hoje toma forma na utilização constante de atributos mentais como cognição, percepção e raciocínio em qualquer lugar onde o trabalhador estiver.

A virtualização das formas de colaboração e trabalho via internet criaram os escritórios virtuais que podem ser conhecidos neste artigo.

A evolução e a decadência das redes pseudo-sociais

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 11 de outubro de 2010

Para quem é leitor assíduo de veículos de mídia ligados à computação e internet não deve ser difícil ver bons colunistas falando de computação como se fosse algo simples e trivial, algo que fosse comum a qualquer pessoa; o que de fato não é dado os crescentes números sobre as matriculas em cursos de computação e as evoluções em TIC’s no Brasil, não tem erro.

No que tange a nova coqueluche dos comentaristas e colunistas em tecnologia da informação e comunicação são as redes sociais e o seu crescimento ao redor do mundo, principalmente em terra brasilis.

Acontece que as redes sociais são ‘inovações’ (sic.) relacionadas quase que exclusivamente para o front end, ou seja, em nível de usuário, mas consistem em práticas simples de conectar pessoas, e torna-las expostas como em uma grande vitrine no qual possam colocar seu status, fotos, e demais informações; e é aí que entra o pulo do gato de como monetizar a coisa toda.

O que é interessante em nível de negócio nas redes sociais não são gadgets, ou applets relacionados a conectividade ou mesmo patrocínios, mas sim a venda de informações de seus usuários para as empresas.

O artigo do Pedro Dória retrata bastante o que essas redes pseudo-sociais (que como diria o colunista da’ Isto É’ e membro do ‘Manhattan Connection’ Ricardo Amorim, ‘aproxima os ‘distantes e separa os próximos’) e seus efeitos no sentido de que não são feitas para aproximar pessoas, mas sim é uma mistura de brechó social, com um parque de diversões estéreis.

Os amigos, os amigos dos amigos e os conhecidos

Por Pedro Doria

Paul Adams trabalha no Google. Cuida do desenho de interfaces de mídias sociais em projetos como Buzz e sites como YouTube. Recentemente, fez aos colegas de empresa uma apresentação sobre seus estudos. E publicou-a na web. Segundo Adams, as redes sociais estão mal construídas. Não entendem como as pessoas se relacionam na vida real. Para demonstrá-lo, usa o exemplo de uma moça que entrevistou. Debbie.

Criada em Los Angeles, na Califórnia, vive um tanto ao sul, em San Diego. Dá aulas de natação para crianças. Enquanto mostrava aos pesquisadores do Google como usa oFacebook, Debbie repentinamente deu-se conta de algo sério.

Alguns de seus amigos de LA, que trabalham num bar gay, costumam publicar fotos das noitadas em seus perfis. São fotos que, via sua página de perfil, seus jovens alunos conseguem ver. São pedaços de sua vida que Debbie não queria ver misturados e que, no entanto, estão.

Acontece de formas diferente com todos nós.

No caso de Debbie, ela tem quatro “redes sociais”. Seus amigos de LA, os de San Diego, seus alunos e sua família. Amigos de um grupo não necessariamente se encaixam no outro. Sites de relacionamento, no entanto, costumam tratá-los como um grupo único.

Adams recolheu estudos com pessoas em todo o planeta. Em média, temos, todos, algo entre quatro e seis grupos distintos de relacionamentos formados por entre duas e dez pessoas cada. “Amigo” não é a palavra certa para descrever 85% dessa gente. São conhecidos. Há, na verdade, laços fortes e fracos de relacionamento. Uma pessoa, qualquer pessoa, tem entre duas e seis outras pessoas com quem divide laços fortes.

E nosso universo de relações tênues não vai além de 150. Os grupos nômades humanos não passavam de 150 pessoas. As divisões do Exército Romano, idem. O perfil típico do Facebook e o número de editores máximo de artigos da Wikipedia chega ao mesmo número mágico.

Há um terceiro tipo de relação, a relação temporária, que a internet gerencia bem. É o sujeito de quem compramos algo num site de leilão, é o resenhista de um produto na loja virtual, a pessoa que nos ajuda a resolver um problema em algum fórum. A nota do resenhista, depoimentos de outros sobre esta pessoa,
nos ajudam a confiar ou não.

A rede também é competente para nos auxiliar com nossas relações fortes. No Skype, 80% das conversas de um indivíduo são sempre com as mesmas duas pessoas. Mesmo entre os mais jovens, é o e-mail, e não o site de relacionamentos, o veículo preferencial para comunicar algo para o amigo do peito.

A internet falha é no grupo do meio, aqueles 150 com quem temos alguma relação, mas não íntima. Falha de duas formas distintas. A primeira, porque não faz distinção entre os colegas de trabalho, os amigos do colégio, os pais e irmãos e a turma do fim de semana. A segunda, porque não deixa evidente
que os grupos estão misturados.

Foi o caso de Debbie quando, repentinamente, percebeu que o ato de fazer duns bons companheiros seus amigos no Facebook expôs seus alunos crianças a um lado de suas vida que queria privado. Os grupos, ali, estavam misturados. E, sem que ela se desse conta, expôs a ambos duas facetas suas.

Aí entra um pulo do gato: quanta gente não resmunga que, nas redes sociais, só tem pessoas falando sobre o que estão comendo? Acontece, de fato.E, sempre que alguém escreve sobre seu almoço, tem um público bastante específico em mente. Não se trata, evidentemente, de todos nossos ‘amigos’. Só um grupo que não foi devidamente separado do todo.

Atualizamos nosso status, nos sites de relacionamento, para gerenciar a maneira como somos vistos pelos outros. Para cultivar relações específicas. Para dividir com alguns informação que consideramos úteis. A informação que tornamos pública para uns, no entanto, não deveria ser pública para todos.

A apresentação de Adams está no Slideshare.com, basta fazer uma busca por seu nome. Foi a jornalista Gina Trapani quem a descobriu.Mas esta divisão entre grupos de amigos já foi posta em prática pelo Google, aqui mesmo, no Brasil. Resta saber se as mudanças implementadas no Orkut serão adotadas no Google
Me, a rede social que o gigante da internet está preparando para concorrer com o Facebook. É esperar para ver.

 

 

Digital Age 2.0: Quem paga pelo conteúdo online?

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 22 de agosto de 2010

Direto de IDG NOW!

Debate entre especialistas discutiu uma das principais questões da mídia atual: como manter conteúdo relevante na ‘Era do Grátis’.

Quem paga pelo conteúdo na web 2.0? Essa foi uma das principais discussões durante o 2º dia do Digital Age 2.0. O assunto foi pauta em um painel que reuniu Eduardo Aspesi, VP de Mercado Nacional do Grupo RBS, Fernando Alphen, diretor da agência F/Nazca, Suzana Singer, ombusdman da Folha de São Paulo, Rodrigo Velloso, diretor de desenvolvimento de negócios do Google para América Latina e Michel Lent, gerente geral da agência Ogilvy Interactive, com moderação de Silvia Bassi, publisher da Now!Digital Business.

O discussão começou com a grande questão da mídia atual: como sustentar a produção de conteúdo de qualidade na internet, uma mídia em que a absoluta maioria dos consumidores está acostumada a pagar nada?

Suzana Singer defendeu o valor da mídia tradicional. “Notícia bem-apurada, bem-feita, ainda é um produto muito caro”, disse a ombudsman. Para ela, a existência de jornalismo independente, com equipes que tenham tempo e verba para longas apurações, é fundamental para a democracia. O modelo atual, que privilegia a audiência em troca de publicidade, não é bom no longo prazo para o jornalismo. “O sensacionalismo atrai cliques, mas não é relevante”, argumentou.

Já para Lent, as grandes corporações estão sob séria ameaça. Ele acredita que há preocupação demais com o conteúdo, e pouco com os produtos, que deveriam ser o foco das organizações de mídia. “O melhor modelo de negócios é o mais simples: crie coisas incríveis, relevantes”, disse. Ele apontou como exemplos os casos do Google, Firefox e Apple, que brilharam pela qualidade de suas criações, mais do que pelos investimentos em marketing.

Aspesi, da RBS, acredita que o problema também passa pela distribuição do conteúdo. “Temos de estar onde as pessoas querem, seja no mobile, portais jovens, blogs, onde for”, disse.

Pessimista, Alphen acredita que o momento é de transição – para pior. Ele mencionou pesquisas apontando que, entre o público mais jovem (até 15 anos), as principais fontes de informação são mecanismos de busca (principalmente o Google, claro), Orkut, Twitter e até o YouTube – enquanto os veículos tradicionais respondem por apenas 5%. “É uma questão de mudar as cabeças”, disse.

Ele acredita, inclusive, que a própria forma de consumir informações por meio da palavra escrita está em extinção. “Hoje a mídia é muito mais audiovisual”. De fato, pesquisas divulgadas no Digital Age mostram que o vídeo online é uma das preferências dos brasileiros.

Velloso, do Google, foi por outro caminho. “O que existe hoje é uma disputa de tempo – as pessoas gastam 25 minutos no jornal impresso, e apenas 70 segundos no site da publicação”, comentou. Para ele, o foco de replicar o conteúdo offline no online é errado, e não cria engajamento nos leitores. “O que as empresas precisam fazer é cortar os custos – elas não podem gastar tanto”, defendeu.

Ele também defendeu a gigante de buscas, apontada por muitos como uma das vilãs da crise nas mídias tradionais. “O Google só ajudou a internet”, disse. Segundo ele, uma enorme quantidade de sites de notícia passou a receber ou teve seu tráfego aumentado por conta de serviços como o agregador Google News. Diante da ameaça de alguns veículos de restringir o acesso do mecanismo de busca ao seu noticiário, ele argumentou que isso “não resolveria o problema – o importante é gerar conteúdo relevante”.

Publicar informações diferenciadas também foi uma necessidade apontada por Suzana. “Os jornais ainda não conseguiram gerar no online um conteúdo tão melhor a ponto de convencer os leitores”, disse.

A nova mina de ouro da web: Seus segredos

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 31 de julho de 2010

Nesta reportagem do Wall Street Journal há um importante contraponto no que se refere a questão da privacidade, onde, os consumidores ao invés se serem ‘conquistados’ pela a propaganda ética e justa onde não há abuso em questões como exploração do trabalho infantil, sustentabilidade e outros motes que geram comoção sociológica; estão sendo rastreados pelas as empresas na internet com a utilização de cookies e outros mecanismos de rastreamento.

Ecossistema de Rastreamento
Ecossistema de Rastreamento

Desde já é importante ressaltar que a escolha de ser rastreado por cookies é compulsória por padrão, ou seja, as configurações dos web browsers são definidas para permitir que os sites da internet coloquem os seus cookies na máquina do usuário.

A reportagem expõe que esses dados estão sendo vendidos para as empresas como forma de direcionamento de seus dados privados para empresas para realização de marketing dirigido.

Isso é mais ou menos, como a reportagem menciona ligar para uma pessoa e colocar um amigo na linha para escutar a conversa; ou mesmo, um hipermercado depositar uma caixa cheia de itens de alimentação básicos, mesmo antes de você entrar dentro da sua casa e abrir a dispensa.

O que fica é a reflexão por parte dos consumidores em relação às informações que disponibilizam para os websites, bem como dos setores legais que precisam propor políticas que defendam a intimidade dos consumidores para que estes tenham resguardados os seus direitos de imagem, privacidade e honra.

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What They Know

O uso do conhecimento na sociedade por Friedrich August von Hayek

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 2 de maio de 2010

I

Qual é o problema que buscamos resolver quando tentamos construir uma ordem econômica racional? Partindo de alguns pressupostos amplamente aceitos, a resposta é bastante simples. Se detivéssemos todas as informações relevantes, se pudéssemos tomar como ponto de partida um sistema de preferências estabelecido, e se tivéssemos completo conhecimento dos meios disponíveis, o resto do problema seria simplesmente uma questão de lógica. Ou seja, a resposta para a pergunta por qual é o melhor uso dos meios disponíveis está implícita em nossos pressupostos. As condições que devem ser satisfeitas para a solução desse problema ideal foram completamente analisadas e podem ser melhor expostas em um modelo matemático: sucintamente, diríamos que as taxas marginais de substituição entre qualquer dois bens ou fatores devem ser as mesmas independentemente dos seus diferentes usos.

Este, no entanto, decididamente não é o problema econômico que a sociedade enfrenta; e o cálculo econômico que desenvolvemos para resolver esse problema lógico, embora seja um importante passo na direção da solução do problema econômico da sociedade, não oferece ainda uma resposta para ele. O motivo disto é que os “dados” totais da sociedade a partir dos quais são feitos os cálculos econômicos nunca são “dados” a uma única mente para que pudesse analisar as suas implicações – e nunca serão.

O caráter peculiar do problema de uma ordem econômica racional se caracteriza justamente pelo fato de que o conhecimento das circunstâncias nas quais precisamos agir nunca existe de forma concentrada e integrada, mas apenas como pedaços dispersos de conhecimento incompleto e freqüentemente contraditório, distribuído por diversos indivíduos independentes. O problema econômico da sociedade, portanto, não é meramente um problema de como alocar “dados” recursos – se por “dados” entendermos algo que esteja disponível a uma única mente que possa deliberadamente resolver o problema com base nessas informações. Ao invés disso, o problema é de como garantir que qualquer membro da sociedade fará o melhor uso dos recursos conhecidos, para fins cuja importância relativa apenas estes indivíduos conhecem. Ou, para dizê-lo sucintamente, o problema é o da utilização de um conhecimento que não está disponível a ninguém em sua totalidade.

O caráter fundamental desse problema tem sido, infelizmente, obscurecido, e não iluminado, por muitos dos recentes refinamentos na teoria econômica, e em particular pelos usos variados da matemática. Embora o problema de que eu queira tratar primordialmente nesse artigo seja o problema da organização de uma economia racional, para seguir esse caminho precisarei de repetidamente chamar atenção para as ligações íntimas que esse problema possui com certas questões metodológicas. Muitos dos argumentos que pretendo apresentar são, de fato, conclusões alcançadas por meio de diferentes caminhos de raciocínio que inesperadamente convergiram. Mas, do modo como eu hoje entendo essas questões, essa convergência não é uma coincidência. Parece-me que muitas das divergências que surgem tanto no campo da teoria econômica quanto no da política econômica possuem uma origem comum em uma má compreensão da natureza do problema econômico da sociedade. Essa má compreensão, por sua vez, se deve a uma aplicação indevida de hábitos mentais desenvolvidos para lidar com problemas da natureza aos fenômenos sociais.

II

Na linguagem comum, definimos a palavra “planejar” como o conjunto das decisões inter-relacionadas relativas à alocação dos nossos recursos disponíveis. Toda atividade econômica, nesse sentido, é planejamento; e, em qualquer sociedade em que várias pessoas colaborem, o planejamento, independentemente de quem o faça, terá de basear-se em certos conhecimentos; e esses conhecimentos não estarão disponíveis em primeira instância para o planejador, mas antes para alguém que deverá retransmiti-los ao planejador. Os vários modos pelos quais o conhecimento chega às pessoas que o utilizam para elaborar seus planos é um problema crucial para qualquer teoria que almeje explicar o processo de mercado; e o problema de qual é melhor meio de utilizar o conhecimento que está inicialmente disperso entre várias pessoas independentes é pelo menos um dos principais problemas para a política econômica – ou para qualquer tentativa de conceber um sistema econômico eficiente.

A resposta para essa pergunta está intimamente relacionada com outra questão que emerge aqui: a de quem está planejando. Toda a divergência sobre “planejamento econômico” parte dessa questão. Não está em discussão se se deve planejar ou não, mas sim se o planejamento deve ser feito de forma centralizada, por uma autoridade única para todo o sistema econômico, ou se ele deve ser dividido entre vários indivíduos. No sentido específico em que o termo é utilizado nas controvérsias contemporâneas, planejamento significa necessariamente planejamento central – direcionar todo o sistema econômico de acordo com um projeto unificado. A competição, por outro lado, significa uma descentralização do planejamento, que será realizado por muitas pessoas independentes. O caminho do meio entre essas duas posições – muito falado, mas pouco apreciado quando visto em prática – é a delegação do planejamento para certas indústrias organizadas, isto é, a instituição de monopólios.

A questão de qual desses sistemas será mais eficiente depende principalmente da questão de qual deles podemos esperar um uso mais completo do conhecimento existente. E isto, por sua vez, depende de se nós temos uma probabilidade maior de conseguir colocar todo o conhecimento que está disperso entre vários indivíduos à disposição de uma autoridade central, ou de dar aos indivíduos um conhecimento adicional suficiente para que eles se tornem capazes de integrar os seus planos aos dos outros.

III

Ficará imediatamente evidente que, neste ponto, a resposta será diferente de acordo com os diferentes tipos de conhecimento; e a resposta para a nossa pergunta irá, conseqüentemente, voltar-se para a importância relativa de diferentes tipos de conhecimento; aqueles que mais provavelmente estarão à disposição de indivíduos particulares, e aqueles que teríamos mais certeza de encontrar na posse de um órgão constituído por especialistas bem escolhidos. Se hoje em dia é tão amplamente aceito que a segunda opção é preferível, isto ocorre porque um tipo de conhecimento – o conhecimento científico – ocupa nos dias de hoje um lugar tão proeminente na imaginação pública que chegamos a esquecer que esse não é o único tipo de conhecimento relevante. Pode-se admitir que, em relação ao conhecimento científico, um órgão com um punhado de especialistas bem escolhidos seja a melhor opção para melhor dominar o conhecimento disponível – embora isso, obviamente, seja meramente trocar um problema por outro: o problema de como escolher esses especialistas. O que desejo frisar é que, mesmo presumindo que esse problema pudesse ser imediatamente resolvido, ele seria apenas parte de um problema maior.

Hoje é quase uma heresia sugerir que o conhecimento científico não corresponde à totalidade do conhecimento. Mas um pouco de reflexão irá mostrar que, sem sombra de dúvida, existe um corpo importantíssimo de conhecimento desorganizado que não pode ser chamado de científico, entendendo “científico” como o conhecimento de certas regras gerais: o conhecimento de certas circunstâncias particulares de tempo e lugar. É em relação a isso que praticamente todo indivíduo tem alguma vantagem comparativa em relação a todos os outros, pois ele possui informações únicas sobre que tipos de usos benéficos podem ser feitos com certos recursos; usos estes que só acontecerão se a decisão de como utilizá-los for deixada nas mãos desse indivíduo ou for tomada com sua cooperação ativa. Basta apenas lembrarmos o quanto precisamos aprender em qualquer profissão depois de termos completado nossa formação teórica, quão grande é a parte da nossa vida profissional em que passamos aprendendo habilidades específicas, e quão valioso, em todas as circunstâncias da vida, é o conhecimento das pessoas, das condições locais e de certas circunstâncias especiais. Conhecer e saber operar uma máquina que não estava sendo adequadamente explorada, ou a habilidade de alguém que poderia ser mais bem aproveitada, ou estar consciente de um excedente de reservas que pode ser usado durante uma interrupção temporária do fornecimento, é tão útil socialmente quanto o conhecimento das melhores técnicas alternativas. O transportador que ganha sua vida descobrindo como melhor aproveitar seu espaço de carga que ficaria vazio, o agente imobiliário cujo conhecimento consiste quase exclusivamente em encontrar oportunidades temporárias, ou o arbitrageur, que lucra a partir das diferenças locais entre os preços de certos bens – todos eles realizam trabalhos eminentemente úteis que são baseados em um conhecimento especial das circunstâncias de um momento fugidio, desconhecido por outros.

É curioso que nos dias de hoje esse tipo de conhecimento seja amplamente menosprezado, e que as pessoas que fazem uso dele para alcançarem privilégios sobre pessoas com melhor preparo teórico ou técnico sejam vistas quase como se estivessem fazendo algo desonrado. Mas, embora conquistar privilégios usando um conhecimento superior quanto às condições de comunicação e transporte seja visto como algo quase desonesto, a verdade é que, para a sociedade, é quase tão importante fazer o melhor uso possível dessas oportunidades quanto das últimas descobertas científicas.

Esse preconceito tem uma influência considerável sobre o fato de as pessoas costumarem adotar uma atitude mais desfavorável em relação ao comércio do que em relação às atividades produtivas. Mesmos os economistas que se crêem totalmente imunes às rasas falácias materialistas do passado constantemente cometem os mesmos erros em relação às atividades relacionadas à aquisição de conhecimento prático – e o motivo disso parece ser que, segundo o modo como eles vêem o mundo, esse tipo de conhecimento já deveria estar “dado” em vez de ser algo que precise ser buscado. A idéia mais comum na atualidade parece ser a de que todo conhecimento desse tipo deveria estar constantemente disponível para todo mundo e, como isso não ocorre, critica-se a ordem econômica atual por ser supostamente irracional. Essa concepção ignora o fato de que o método de tornar esse conhecimento amplamente disponível é precisamente o problema que precisamos resolver.

IV

Se hoje em dia está na moda minimizar a importância do conhecimento das circunstâncias particulares de tempo e espaço, isso se deve em grande medida a pouca importância dada à questão da incerteza em si mesma. De fato, parte dos pressupostos (que geralmente estão apenas implícitos) adotados pelos “planejadores” diferem dos seus oponentes tanto em relação à capacidade de mudanças imprevistas causarem alterações substanciais nos planos de produção quanto em relação à freqüência com que isso ocorre. Evidentemente, se fosse possível fazer previamente planos econômicos detalhados para períodos significativamente longos, e depois segui-los à risca, de modo que nenhuma outra decisão econômica importante fosse necessária, a tarefa de elaborar um planejamento completo para toda a atividade econômica não seria algo tão inatingível.

Talvez valha a pena frisar que os problemas econômicos surgem sempre e exclusivamente em decorrência de mudanças. Enquanto as coisas continuam exatamente como estavam antes – ou ao menos quando elas prosseguem de acordo com o que se esperava delas – então não surgirão novos problemas que exijam soluções, não havendo, portanto, necessidade de que se elabore um novo planejamento. A crença de que a mudança – ou ao menos os pequenos ajustes cotidianos – se tornou menos importante nos tempos modernos parte do princípio de que a contenção dos problemas econômicos também se tornou menos importante. Por esse motivo, as pessoas que costumam menosprezar a importância da incerteza são as mesmas que argumentam que as questões econômicas já não são tão importantes quanto o conhecimento tecnológico.

Será verdade que, graças ao sofisticado aparato da indústria moderna, só é preciso tomar decisões econômicas em intervalos longos; como na hora de decidir se uma nova fábrica deve ser construída, ou um novo procedimento deve ser introduzido? É verdade que, uma vez que uma fábrica tenha sido construída, o resto é mais ou menos mecânico, determinado por suas características, deixando pouco a ser mudado para adaptar-se às eternas flutuações de cada momento?

A experiência prática dos homens de negócios, até onde eu a conheço, não sustenta essa crença amplamente aceita. Pelo menos nas áreas de negócios que são competitivas – e apenas essas áreas servem de modelo para essa questão – a tarefa de impedir os custos de subir exige um luta constante, que absorve grande parte da energia do administrador. É fácil para um administrador ineficiente gastar as pequenas sobras de onde saem os lucros; é um lugar-comum da experiência empresarial que, com as mesmas condições técnicas, a mesma produção pode ser feita dentro de uma variedade enorme de custos – mas isso não é igualmente conhecido pelos que estudam apenas economia. O próprio desejo – freqüentemente declarado pelos produtores e engenheiros – de ser autorizado a fazer seus projetos sem considerações financeiras é um testemunho eloqüente do poder que esses fatores exercem sobre seu trabalho diário.

Um dos motivos para a crescente incapacidade dos economistas de atentarem para as constantes pequenas mudanças que compõem o todo da atividade econômica é provavelmente que eles estão cada vez mais preocupados com dados estatísticos, que passam uma imagem muito mais estável da economia do que os pequenos movimentos diários. No entanto, a relativa estabilidade dos grandes dados estatísticos não pode ser explicada – como os estatísticos freqüentemente querem fazer crer – pelas “leis dos grandes números” ou pela mútua compensação de pequenas mudanças aleatórias. O número dos elementos com que eles lidam não é grande o suficiente para que essas forças acidentais produzam estabilidade. O continuo fluxo de bens e serviços é mantido por ajustes deliberados e constantes, por novas decisões tomadas diariamente à luz de circunstâncias que eram desconhecidas até o dia anterior, pela decisão de B de entrar em cena quando A deixa de executar o seu papel. Mesmo a maior e mais mecânica das fábricas segue adiante em grande parte por causa de um ambiente que pode lhe prover todas as suas demandas inesperadas: novas telhas para seu telhado, papéis para seus documentos, e todos os mil e um tipos de equipamentos que não podem ser produzidos pela própria fábrica, mas que, para que ela continue a funcionar, precisam estar facilmente disponíveis no mercado.

Nesse instante, devo brevemente observar que o tipo de conhecimento de que tenho tratado é de um tipo que, por sua própria natureza, não pode ser transposto para dados estatísticos e que, por isso, não pode ser colocado à disposição de uma autoridade central que delibere a partir de levantamentos estatísticos. As estatísticas que essa autoridade teria de utilizar surgiriam exatamente por meio das abstrações das pequenas diferenças entre as coisas, juntando como se fossem elementos de um só tipo itens com diferentes características de lugar, qualidade e outras características particulares, que seriam muito importantes para tomar uma decisão específica. Conseqüentemente, planejamento central baseado em informações estatísticas, por sua própria natureza, não pode levar em consideração diretamente as circunstâncias de tempo e lugar, precisando encontrar algum jeito de essas decisões serem deixadas para alguém que esteja no local.

V

Se pudermos convir que o problema econômico da sociedade é basicamente uma questão de se adaptar rapidamente às mudanças das circunstâncias particulares de tempo e lugar, parece ser evidente que, por conseqüência, as decisões fundamentais devem ser deixadas a cargo de pessoas que estejam familiarizadas com essas circunstâncias, que possam conhecer diretamente as mudanças relevantes e os recursos imediatamente disponíveis para lidar com elas. Não podemos esperar que essa problema seja resolvido por meio da transmissão de todo esse conhecimento para um diretório central que, depois de ter integrado todo esse saber, emita uma ordem. Precisamos da descentralização porque apenas assim podemos garantir que o conhecimento das circunstâncias particulares de tempo e lugar sejam prontamente utilizados. Mas o homem que está dentro de uma situação particular não pode tomar decisões com base apenas em seu conhecimento dos fatos relativos aos seus arredores imediatos, pois, apesar de este ser um conhecimento íntimo, é também limitado. No entanto, persiste o problema de como transmitir a esse homem informações suficientes para que ele seja capaz de encaixar suas decisões no padrão geral das mudanças do sistema econômico como um todo.

De quanto conhecimento ele precisa para ser bem sucedido nisso? Quais dos eventos que acontecerão além do seu horizonte imediato de conhecimento são relevantes para sua decisão imediata, e quão bem ele precisa conhecer esses eventos?

Praticamente não há nada que ocorra no mundo que não possa influenciar a decisão que ele precisa tomar. Mas ele não precisa conhecer esses eventos em si mesmos, nem precisa conhecer todos os seus efeitos. Para ele, não é importante saber o porquê de um certo tipo de parafuso estar sendo mais procurado em uma época específica, ou porque os sacos de papéis estão mais facilmente disponíveis que os sacos de lona, ou porque trabalhadores especializados ou máquinas específicas momentaneamente se tornaram difíceis de encontrar. Tudo que ele precisa saber é quão mais ou menos difícil está a aquisição de certas coisas em relação a outras coisas que também lhe interessam, ou se a demanda por outras coisas que ele produz ou usa é mais ou menos urgente. Ele sempre está preocupado com a importância relativa de coisas particulares, enquanto os fatores que alteram essa importância relativa não lhe interessam de forma alguma, exceto na medida dos próprios efeitos causados sobre as coisas concretas do seu ambiente.

É em relação a isso que aquilo que chamei de “cálculo econômico” nos ajuda, ao menos por analogia, a entender como esse problema pode ser resolvido – na verdade, como ele já está sendo resolvido – pelo sistema de preços. Mesmo se existisse uma única mente controladora que possuísse todos os dados sobre um sistema econômico pequeno e restrito, ela não iria dar-se ao trabalho de repassar por todas as relações entre fins e meios que talvez possam ser afetadas a cada vez que algum pequeno ajuste na alocação recursos fosse feito. De fato, uma das grandes contribuições da lógica pura da escolha é ter demonstrado conclusivamente que mesmo uma única mente onisciente só poderia resolver esse tipo de problema por meio da construção e da constante utilização de taxas de equivalência (ou “valores” ou “taxas marginais de substituição”), ou seja, por meio da atribuição de um índice numérico a cada tipo de recurso que, sem ser derivado de nenhuma propriedade dessa coisa em particular, ainda refletisse ou condensasse sua relevância na estrutura total dos meios e fins. Para cada pequena mudança, ela teria que considerar apenas esses índices quantitativos (ou “valores”), no qual a informação relevante estaria concentrada; e, ao ajustar as quantidades uma a uma, ela poderia reorganizar todos os elementos sem precisar retomar todo o quebra-cabeça desde o início nem precisar parar a cada etapa para analisar novamente todos os elementos e suas ramificações.

Basicamente, em um sistema no qual o conhecimento dos fatos relevantes está disperso entre várias pessoas, os preços podem servir para coordenar as diferentes ações de várias pessoas do mesmo modo como os valores subjetivos ajudariam aquela mente onisciente a coordenar as diferentes partes do seu plano. Vale a pena contemplar por um instante um exemplo muito simples e comum do sistema de preços em ação para ver exatamente o que ele pode fazer. Suponha por um instante que, em algum lugar do mundo, uma nova oportunidade de usar alguma matéria prima surgiu – tomemos o estanho como exemplo – ou então que alguma das fontes de estanho tenha sido eliminada. Para o nosso exemplo não importa – e é muito significativo que isso não importe – qual dessas duas causas tenham aumentado a escassez de estanho. Tudo que os usuários de estanho precisam saber é que parte do estanho que eles costumavam consumir agora está sendo usado com mais proveito em outro lugar e, em decorrência disto, eles precisam ser mais econômicos em seu uso.

Não é preciso nem que boa parte deles saiba de onde essa demanda mais urgentemente surgiu, nem mesmo em prol de quê eles irão poupar esses recursos. Basta que alguns deles saibam diretamente da existência da nova demanda e transfiram recursos para ela, que algumas outras pessoas percebam o vazio que foi então criado e ajam para preenchê-lo com recursos de outras fontes, e então o efeito irá rapidamente se espalhar por todo o sistema econômico, influenciando não apenas todos os usos do estanho, mas também os usos dos seus substitutos, e dos substitutos desses substitutos, assim como a oferta de todas as coisas feitas de estanho, e a dos seus substitutos dessas coisas, e assim por diante; e tudo isso ocorre sem que a grande maioria daqueles que realizam essas substituições saiba nada sobre a causa original dessas mudanças. O todo age como se fosse um único mercado, mas isso não ocorre porque cada um dos seus membros pôde analisá-lo como um todo, mas sim porque os campos limitados da visão de cada um tinham alcance suficiente para que, através de inúmeros intermediários, a informação relevante fosse comunicada para todos. O mero fato de que há um preço para cada bem – ou, melhor dizendo, que cada preço local está ligado de certa forma com o custo de transportá-lo para esse local, e assim por diante – traz a mesma solução que uma única mente dotada de todas as informações (embora ela seja apenas uma possibilidade imaginária) teria alcançado, ainda que essas informações na verdade estejam dispersas entre todas as pessoas envolvidas no processo.

VI

Precisamos entender o sistema de preços como um mecanismo de transmissão de informações para podermos entender sua verdadeira função – uma função que ele cumpre evidentemente com menos perfeição na medida em que os preços se tornam mais rígidos. (Mas mesmo quando preços tabelados se tornam extremamente rígidos, as forças que normalmente atuariam causando mudanças no preço permanecem agindo, exercendo uma influência considerável sobre as mudanças em outros aspectos dos contratos). O principal aspecto desse sistema é a economia de conhecimento com que ele opera; ou, em outros termos, é quão pouco os participantes individuais precisam saber para ser capazes de tomar as decisões corretas. De forma abreviada, por meio de um certo tipo de símbolo, apenas a informação mais essencial é transmitida adiante, e apenas para aqueles que estão interessados nela. Não seria apenas uma metáfora se disséssemos que o sistema de preços é tipo um caixa registrador, ou um sistema de telecomunicações que permite aos produtores individuais observar apenas o movimento de alguns fatores – do mesmo modo como um engenheiro pode se concentrar apenas nos consoles de alguns mostradores – para adaptar as suas atividades às mudanças que eles conhecem apenas a partir do que é mostrado pelo movimento dos preços.

Evidentemente, esses ajustes provavelmente nunca são “perfeitos” no sentido de perfeição que os economistas utilizam em suas análises sobre o equilíbrio econômico. No entanto, temo que nosso hábito teórico de abordar cada problema com a presunção de um conhecimento mais ou menos perfeito da parte de quase todos os envolvidos quase nos tenha cegado para a verdadeira função do mecanismo de preço, levando-nos a aplicar de forma enganosa padrões inadequados para julgar sua eficiência. É maravilhoso que em uma situação na qual haja escassez de um tipo de matéria prima, sem que nenhuma ordem seja dada, sem que talvez não mais que um punhado de pessoas saibam a causa dessa escassez, dezenas de milhares de pessoas cujas identidades jamais serão conhecidas, mesmo depois de meses de investigação, começam então a utilizar essa matéria ou seus subprodutos de maneira mais econômica; ou seja, todas elas agem na direção correta. Isto, em si mesmo, é suficientemente maravilhoso; mesmo que, em um mundo de incertezas constantes, nem tudo consiga se organizar tão perfeitamente para que suas porcentagens de lucros se mantenham constantemente no mesmo nível considerado “normal”.

Usei deliberadamente a palavra “maravilha” para chocar o leitor e retirá-lo da complacência com que costumamos dar como certo o funcionamento desse mecanismo. Estou convencido de que se isso fosse o resultado de um projeto humano consciente, e que as pessoas guiadas pelas mudanças dos preços soubessem que suas decisões possuem uma importância muito maior do que a realização dos seus fins imediatos, então esse mecanismo seria louvado como um dos maiores triunfos da mente humana. O seu azar é duplo: nem ele é o fruto de um projeto humano, nem as pessoas guiadas por ele costumam entender porque elas fazem as coisas que são levadas a fazer. Mas aqueles que clamam por uma “direção consciente” – e que não podem acreditar que algo que tenha sido criado sem um planejamento (e, de fato, sem que nem mesmo alguém o compreendesse como um todo) possa resolver problemas que nós mesmos não podemos resolver conscientemente – devem lembrar-se do seguinte: o problema é precisamente de como expandir a extensão da utilização dos recursos além da extensão do entendimento de um único indivíduo; e, portanto, trata-se de um problema de como administrar a necessidade de controle consciente, e de como dar incentivos para os indivíduos tomarem as decisões desejáveis sem que alguém lhes diga o que fazer.

O problema de que estamos tratando aqui de forma alguma diz respeito exclusivamente à economia, pois ele surge junto com quase todos os outros verdadeiros fenômenos sociais, com a linguagem e boa parte da nossa herança cultural, constituindo de fato o problema central de toda ciência social. Como Alfred Whitehead disse, em relação a outra coisa, “Um truísmo profundamente falso, repetido por todos os manuais e nos discursos das pessoas eminentes, diz que devemos cultivar o hábito de pensar sobre o que estamos fazendo. O oposto é que é verdadeiro. A civilização progride quando aumentamos o número de trabalhos importantes que podemos realizar sem pensar neles”. Isso possui uma profunda importância no campo social. Usamos constantemente fórmulas, símbolos e regras cujo significado não entendemos, mas por meio dos quais podemos ter acesso a conhecimentos que, individualmente, não possuímos. Criamos essas práticas e instituições tomando como base os hábitos e instituições que se mostraram bem sucedidos em suas próprias esferas e que se tornaram a fundação em cima da qual construímos a civilização.

O sistema de preços é apenas uma dessas criações que o homem aprendeu a usar (embora ele ainda esteja longe de ter aprendido a usá-lo perfeitamente), depois que se deparou com ele, mesmo antes de entendê-lo. Por meio dele não apenas a divisão de trabalho, mas também o uso coordenado de recursos baseado em conhecimentos amplamente divulgados se tornam possíveis. As pessoas que gostam de ridicularizar qualquer sugestão de que é assim que as coisas funcionam distorcem nosso argumento ao insinuar que estamos dizendo que é por algum milagre que um sistema como esse se desenvolveu espontaneamente, tornando-se o mais adequado para a civilização moderna. Trata-se exatamente do contrário: o homem pode criar essa divisão do trabalho sobre a qual a nossa civilização se sustenta justamente porque ele se deparou com um método que a tornou possível. Caso isso não tivesse ocorrido, ele talvez tivesse desenvolvido um tipo inteiramente diferente de civilização, talvez o “Estado”dos cupins, ou outra coisa totalmente inimaginável. Tudo que podemos dizer é que até agora ninguém conseguiu produzir um sistema alternativo no qual certas características do sistema existente – que são respeitadas mesmo por aqueles que o atacam violentamente – possam ser preservadas, especialmente em relação à capacidade do indivíduo de escolher seus objetivos e, conseqüentemente, de dispor livremente de suas habilidades e conhecimento.

VII

Por vários motivos, é ótimo que a necessidade do sistema de preços para qualquer cálculo racional em uma sociedade complexa já não seja mais objeto de discussão apenas entre grupos com opiniões políticas distintas. A tese segundo a qual sem o sistema de preços nós não poderíamos preservar uma sociedade baseada numa divisão de trabalho tão extensiva quanto a nossa foi recebida com gritos de chacota quando Mises a apresentou há vinte e cinco anos. Hoje os argumentos que alguns ainda apresentam para rejeitar essa tese não são mais exclusivamente políticos, e isso cria um atmosfera muito mais receptível a discussões ponderadas. Quando vemos Leon Trostky argumentando que o “cálculo econômico é inimaginável sem as relações de mercado”; quando o professor Oscar Lange promete ao professor von Mises uma estátua de mármore no futuro Diretório de Planejamento Central, e quando o professor Abba P. Lerner redescobre Adam Smith, enfatizando que a utilidade essencial do sistema de preços consiste em induzir o indivíduo a fazer aquilo que é do interesse geral no instante em que busca realizar seus próprios interesses, então, as divergências já não podem ser atribuídas a preconceitos políticos. Os dissidentes restantes parecem claramente divergir dessa posição por motivos puramente intelectuais e, mais particularmente, por causa de diferenças metodológicas.

Uma declaração recente do professor Joseph Schumpeter em seu Capitalismo, socialismo e democracia fornece um exemplo perfeito dessas diferenças metodológicas que tenho em mente. O autor é um dos economistas mais proeminentes entre aqueles que analisam o fenômeno econômico a partir de algum ramo do positivismo. Para ele, esses fenômenos surgem por conseqüência do mútuo efeito exercido por certas quantidades objetivas de bens, quase como se não houvesse intervenção alguma de mentes humanas. Apenas por causa desses pressupostos, posso compreender a declaração seguinte – e, para mim, espantosa. O professor Schumpeter argumenta que a possibilidade do cálculo racional na ausência de um mercado para os fatores de produção é uma decorrência da proposição teórica segundo a qual “os consumidores que estão avaliando (demandando) os bens de consumo ipso facto também estão avaliando os meios de produção que entram na produção daqueles bens” (1).

Tomada literalmente, essa declaração é simplesmente falsa. Os consumidores não fazem nada disso. O que o “ipso facto do professor Schumpeter provavelmente significa é que a avaliação dos fatores de produção está implícita, ou que se segue necessariamente, da avaliação dos bens de consumo. Mas isso também não é verdadeiro. A implicação é uma relação lógica que só pode ser afirmada com segurança a partir de pressupostos que estejam para o mesmo indivíduo. É evidente, no entanto, que os valores dos fatores de produção não dependem exclusivamente da avaliação dos bens de consumo, mas também das condições de fornecimento dos vários fatores de produção. Apenas um único indivíduo que conhecesse todos esses fatores simultaneamente poderia encontrar uma respostas derivada diretamente desses dados. O problema prático surge, no entanto, precisamente porque esses dados nunca estão inteiramente disponíveis para um único indivíduo, e porque, por conseqüência, é necessário para resolver esse problema a utilização de conhecimentos que estão dispersos por vários indivíduos.

O problema, portanto, não estaria de forma alguma resolvido se demonstrássemos que todos os dados, se estivessem disponíveis para uma única mente (como hipoteticamente estariam para o economista que observasse o problema), iriam por si mesmos determinar a solução; ao invés disso, precisaríamos demonstrar como uma solução poderia ser produzida pela interação entre as pessoas que, individualmente, possuem apenas um conhecimento parcial. Presumir que todo o conhecimento possa ser colocado à disposição de uma única mente, do modo como presumimos que ele pode estar disponível para nós, como economistas dedicados a analisar uma questão, equivale a fugir do problema e menosprezar tudo que é importante e relevante no mundo real.

Que um economista da estatura do professor Schumpeter tenha caído em tal armadilha por causa da ambigüidade que o termo “dado” tem para os incautos dificilmente poderia ser considerado um simples erro. Isto sugere, de fato, que há algo de fundamentalmente errado com uma abordagem que freqüentemente despreza uma parte essencial dos fenômenos com os quais temos que lidar:a inevitável imperfeição do conhecimento humano e a necessidade decorrente de um processo por meio do qual o conhecimento seja constantemente adquirido e transmitido. Qualquer abordagem – como grande parte da economia matemática com suas várias equações simultâneas – que parta do pressuposto de que o conhecimento das pessoas corresponde aos fatos objetivo de cada situação, irá sistematicamente deixar de lado aquilo que é a nossa principal tarefa explicar. Estou longe de negar que, em nossa sistema, a análise do equilíbrio econômico tem uma atividade útil a desempenhar, mas quando chega o ponto em que ela ofusca nossos principais intelectuais, fazendo-os acreditar que a situação que estão descrevendo tem uma relevância direta para a solução de problemas práticos, está mais que na hora de nos lembrarmos que esse tipo de análise não lida com o processo social de forma alguma, e de que isso não é mais do que uma etapa preliminar para a investigação do problema principal.

Notas

(1) Schumpeter, Capitalismo, Socialismo e Democracia [Capitalism, Socialism, and Democracy (New York; Harper, 1942), p. 175]. O professor Schumpeter é, me parece, o responsável pela criação do mito segundo o qual Pareto e Barone teriam “resolvido” o problema do cálculo econômico no socialismo. O que eles e muitos outros fizeram foi apenas elencar as condições que deveriam ser satisfeita para uma alocação racional de recursos, e observar que essas condições eram essencialmente as mesmas do estado de equilíbrio de um mercado competitivo. Isso é inteiramente diferente de saber como a alocação de recursos segundo essas condições pode ser observada na prática. O próprio Pareto (de quem Barone praticamente tomou quase tudo que tinha a dizer), longe de declarar ter resolvido esse problema prático, de fato, negou explicitamente que ele poderia ser resolvido sem o auxílio do mercado. Vejam o seu Manuel d’économie pure (2d ed., 1927), pp. 233–34, [“Manual de economia pura”]. As passagens relevantes estão citadas em uma tradução inglese no início do meu artigo Socialist Calculation: The Competitive ‘Solution’ [“O cálculo socialista: a ‘solução’ competitiva”] in Economica, New Series, Vol. VIII, No. 26 (May, 1940), p. 125.].

Copyright © 2008 by the American Economic Association.

Fonte: Hayek, Friedrich A. American Economic Review, XXXV, No. 4; Setembro de 1945, pp. 519–30.

Friedrich August von Hayek (1899-1992) foi um dos mais influentes economistas do século passado. Foi professor na London School of Economics e na Universidade de Chicago, até aposentar-se na Universidade de Freiburg em 1968. Entre seus livros, estão O caminho da servidão e Fundamentos da Liberdade. Recebeu o prêmio Nobel em 1974.

Mais sobre o futuro do e-Book

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 24 de abril de 2010

Duas reportagens interessantes uma da Folha Online, e outra da Veja Online, onde mostra que esse futuro do e-Book ainda é indefinido no Brasil, e que a morte do formato físico está muito longe de acontecer.

Folha Online – Formatos e Direitos travam e-Nook no Brasil

[…]Mas Herz continua cético quanto a um crescimento veloz do livro digital. Em quase um mês, diz ter vendido apenas 134 e-books. “É muito pouco.”

O livreiro é um dos que defendem que o maior nó do mercado é a rediscussão dos direitos autorais. “O medo está aí. Isso vai inundar o Judiciário.”[…]

Veja Online – O Enigma do e-Book: “Decifra-me ou te devoro”

[…]Entre os enigmas dos e-readers está o preço do livro eletrônico, o e-book. Uma vez que sua produção elimina gastos de impressão, papel e transporte ao ponto de venda, o custos e, portanto, o preço das obras digitais poderiam ser sensivelmente inferiores aos do livro tradicional. E são. Outra charada: no novo cenário, como seria a remuneração de autores e editoras? Mais uma: qual dos formatos oferecidos por fabricantes de e-readers se tornará padrão? Como sobreviverão as livrarias, se um dia todas as obras puderem ser adquiridas pela internet, por exemplo? Finalmente: como evitar que o arquivo digital, facilmente reproduzível e compartilhável em ambiente virtual, vire alvo de pirataria, repetindo com a indústria do livro o que o formato MP3 fez com a dos discos?[…]

The Economist falando de corda na casa do enforcado

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 13 de abril de 2010

E a conceituadissíma The Economist patinando ao discutir direitos autorais

[…] The moral case, although easy to sympathise with, is a way of trying to have one’s cake and eat it. Copyright was originally the grant of a temporary government-supported monopoly on copying a work, not a property right. From 1710 onwards, it has involved a deal in which the creator or publisher gives up any natural and perpetual claim in order to have the state protect an artificial and limited one. So it remains.

The question is how such a deal can be made equitably. At the moment, the terms of trade favour publishers too much.[…]

O fato de a revista tocar no assunto de maneira direta, propondo a reflexão é uma grande evolução no mercado editorial, pois, falar de direitos autorais para empresas de publicações é a mesma coisa de falar de corda na casa de quem teve um parente querido enforcado.

A provocação à reflexão é amplamente válida, porém, esse é um tipo de argumentação muito recente para se tomar qualquer tipo de partido; especialmente tratando-se de uma revista semanal que tem um amplo corpo de jornalistas, diversas matérias in stock (Nota do Autor: Mais ou menos como na gaveta aqui no Brasil), prévias de pautas com mais de 15 dias de diferença da edição atual; o que é muito diferente de um autor que passa anos e anos investigando, dissertando, revisando um determinado assunto e que leva ao menos 5 à 10 anos para escrever um livro, que na grande parte das vezes tem que ser obrigatóriamente a sua Magnum Opus para ser dada a continuidade editorial e científica ao assunto abordado.

É um tema que deve ser abordado com bastante parcimônia, pois, há muitas variáveis em jogo, e ainda não existe cenário de uma total ausência de mídia impressa (ou mídia formal) para se saber se a Web 2.0 e os novos modelos de negócios para notícias e informações são mesmo o futuro, e consequentemente definindo a morte dos direitos autorais.

Será que o efeito Paulo Coelho também chegou à The Economist?

PARA LER

THE ECONOMIST. Copyright and wrong. Disponível em <<http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=15868004 >> Acessado em 13 Abr 10 às 09h02.

Como fazer dinheiro com vídeos online

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 12 de abril de 2010

Direto de Techcrunch.

Muitas das vezes, vemos através de propaganda ideológica sugestões de modelos de negócios para diversos serviços de internet. Partidários dessas opiniões abrem mão de coisas como privacidade, liberdade autoral, e direito de propriedade intelectual para sustentar o fenômeno da web 2.0. Porém, o que não é dito nestes discursos é que as mais diversas formas em que as firmas digitais sapateiam como Gene Kelly em Cantando na Chuva aos seus lucros altíssimos sobre um conteúdo que não produzem, e que se submete ao escravagismo proprietário quando concede totalmente os seus direitos.

O infográfico abaixo retrata bem como o capitalismo digital está tripudiando sob o discurso do socialismo digital através da web 2.0.

Fonte: Techcrunch

Fonte: Techcrunch

PARA LER:

TECHCRUNCH. How To Make Money In Online Video. Techcrunch Website. Disponível em << http://techcrunch.com/2010/02/07/how-to-make-money-online-video/>> Acessado em 12 Abr 10 às 11h00.

A Explosão da Não Informação

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 1 de abril de 2010

A Explosão da Não Informação – Por Marco Antonio De Paula

Esse artigo do MarcoAntônio de Paula, reflete muito do que o EI pensa sobre
Era da Informação e Era do Conhecimento; onde a era da informação é a que estamos vivendo, em que a informação pode ser disponibilizada a qualquer momento no toque de um clique; mas a Era do Conhecimento ainda está para chegar com um ser humano com uma capacidade de reflexão e cognição mais avançada.

“[…]Hoje, no desenvolvimento de nossas atividades profissionais e para sobrevivermos no mercado de trabalho ou até para atuarmos na sociedade em geral, somos forçados a assimilar um corpo de conhecimento que se amplia a cada minuto. A prova disso é a pilha cada vez maior de periódicos, livros, relatórios e documentos eletrônicos, produtos de pesquisas em web sites que provavelmente estão crescendo em seu escritório ou casa a espera de leitura. Isso mesmo, leitura, pois nossa ansiedade de informação é tão absurda que nos leva a acumular informação que se não for utilizada será inútil e não produzirá nenhum conhecimento.
Atuo há 25 anos na área de segurança corporativa com foco em Inteligência e Investigação, onde a informação é a força motriz e é ao mesmo tempo uma terrível ameaça se não transformada em conhecimento para tomada de decisões estratégicas. Por isso, aqueles profissionais que atuam na obtenção e manuseio da informação para aplicar estrategicamente em seus negócios devem estar preparados e treinados para separar o lixo (informação inútil), da informação, pura matéria prima do conhecimento. Como exemplo você sabia que: um jornal típico é composto por 20% de anúncios e classificados, 24% por notícias de amenidades, 8% de notícias nacionais e internacionais, 5% de notícias locais, 40% de anúncios comerciais, ou seja, notícias sérias somam apenas 13% das páginas .[…]”

Um amontoado de dados

Posted in Sem categoria by Flávio Clésio on 1 de abril de 2010

Extraído da reportagem da Revista The Economist – All Too Much que fala do excesso de dados produzidos, e como isso afeta a vida moderna.

“[…] What about the information that is actually consumed? Researchers at the University of California in San Diego (UCSD) examined the flow of data to American households. They found that in 2008 such households were bombarded with 3.6 zettabytes of information (or 34 gigabytes per person per day). The biggest data hogs were video games and television. In terms of bytes, written words are insignificant, amounting to less than 0.1% of the total. However, the amount of reading people do, previously in decline because of television, has almost tripled since 1980, thanks to all that text on the internet. In the past information consumption was largely passive, leaving aside the telephone. Today half of all bytes are received interactively, according to the UCSD. Future studies will extend beyond American households to quantify consumption globally and include business use as well. […]”